Com aumento em 50% de uso desde a pandemia, exposição às telas afeta fala e pode deixar criança mais ansiosa, alerta psicóloga
O uso da tela entre crianças está cada vez mais comum e mais precoce. A prática tem sido motivo de alerta entre os especialistas, que ressaltam os perigos da exposição contínua aos aparelhos. A estimativa é que o uso pelos pequenos tenha aumentado 50% desde a pandemia. A psicóloga do Hapvida Notre Dame Intermédica, Ivana Teles, aponta que o uso excessivo pode afetar a verbalização, interação social e também o desenvolvimento emocional e cognitivo na infância. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um tempo para cada fase, sendo que para menores de dois anos a exposição deve ser zero.
“A criança não vai desenvolver como poderia a verbalização; ela também pode ter atraso na fala e dificuldade na socialização, por conta da pouca estimulação”, avalia, além de pontuar os impactos emocionais. “As crianças podem ficar mais ansiosas, com dificuldades para esperar e maior facilidade para irritação”, esclarece.
A construção de uma rotina sólida e com o tempo dividido para cada atividade é uma das maneiras de reduzir o contato da criança com as telas, seja pelo celular ou TVs. A psicóloga orienta que os pais separem e deixem o filho ciente do tempo para cada coisa: hora da escola, do estudo, da brincadeira, de estar com a família e, de maneira reduzida, o tempo na tela.
“Ter brinquedos em casa que a criança goste de brincar e passe tempo com ele é importante, assim como ter um esporte inserido na rotina”, aconselha.
Ela ainda reforça que os pais também são fundamentais nesse processo e devem fazer questão de viver momentos de qualidade com a criança ao invés de deixá-la brincar sozinha enquanto usa uma tela. “Pais e filhos devem construir uma rotina mais sadia e saudável”, conclui.
Dados – Pesquisas recentes apontam a relação entre uso da tela e impacto no desenvolvimento da criança. Um estudo publicado no Jama Pediatrics relatou que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos por crianças entre 2 e 3 anos estava associado a atrasos no desenvolvimento da fala; já um estudo publicado no “International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity” encontrou uma associação entre o tempo de tela e o risco de desenvolver obesidade em crianças e adolescentes.
Estudos ainda têm mostrado que o uso prolongado de telas pode levar ao desenvolvimento de problemas visuais em crianças, como a síndrome do olho seco e a miopia.
Uma pesquisa publicada ano passado pelo Instituto de Pesquisa do Hospital Infantil de Alberta (Canadá) e as Universidades de Calgary (Canadá) e College Dublin (Irlanda), mostrou que o tempo de tela para as crianças aumentou 50% desde 2020. Crianças e adolescentes entre 3 e 18 anos ficam, em média, quatro horas por dia em frente a dispositivos eletrônicos, revelou o estudo.
No trabalho, os cientistas analisaram o uso de telas entre os pequenos de janeiro de 2020 e março de 2022, por meio de dados coletados por 46 estudos envolvendo quase 30 mil crianças de vários países.
Tempo para cada fase – A Organização Mundial de Saúde (OMS) elaborou uma tabela com recomendações do tempo de tela para cada fase da infância. Confira:
De 0 a 2 anos de idade: a exposição a telas não é recomendada
De 2 a 3 anos de idade: a exposição a telas deve ser a menor possível, e nunca passar de uma hora por dia.
De 3 a 5 anos de idade: a exposição a telas pode ser um pouco maior, mas ainda deve ser limitada a uma hora por dia.
Dos 5 aos 17 anos de idade: a exposição a telas deve ser limitada a, no máximo, duas horas por dia.