A força política dos evangélicos
De acordo com a Constituição Federal, aprovada em 1988, o Brasil é um país laico. Isto é, o Estado não tem uma religião oficial. Isso significa que os brasileiros podem professar qualquer religião, inclusive nenhuma.
Ao mesmo tempo, ninguém pode sofrer censura, violência ou discriminação por praticar seu credo. Até os ateus têm liberdade para negar a existência de Deus, desde que respeite os deístas e suas crenças.
No Brasil, os que se declaram cristãos são maioria. De acordo com o censo do IBGE realizado em 2010, os seguidores de Jesus Cristo formam 86,8%. Destes, 64,6% se assumem católicos e 22,2% se identificam como evangélicos, distribuídos por várias igrejas ditas protestantes. Nos últimos 12 anos, os evangélicos têm se expandido em detrimento dos católicos.
Mesmo ainda constituindo uma minoria dentre os brasileiros, os evangélicos têm demonstrado um avanço significativo no meio político. Enquanto o número de padres com mandatos vem diminuindo, o quantitativo de pastores que detém poder político vem se ampliando significativamente em todas as esferas políticas.
De acordo com o jornalista Merval Pereira (O Globo – 24/03/2022), a Frente Parlamentar Evangélica é composta por 115 deputados federais e 13 senadores. Os líderes evangélicos projetam um crescimento significativo para a próxima eleição: almejam ocupar 175 cadeiras na Câmara Federal e 24 no Senado. Caso esse projeto político se concretize, os evangélicos seriam 30% do todo o Congresso Nacional. Porcentagem proporcional a sua presença na sociedade.
O crescimento da representação evangélica no Congresso Nacional se deve a dois fatores básicos, entre outros. O profundo desgaste da imagem do político tradicional e o avanço da religiosidade protestante em todas as camadas sociais. Além disso, as igrejas evangélicas têm um projeto social de maior presença em todas as instâncias políticas, tanto no executivo quanto no legislativo.
Os políticos evangélicos não são piores nem melhores do que aqueles que professam outras religiões. Marina Silva (Rede) é evangélica. Benedita da Silva (PT) também. Assim como Marcelo Crivella (PR) e Magno Malta (PL). Mas o que caracteriza a maioria dos integrantes da bancada evangélica é a defesa de uma pauta conservadora em termos de direitos civis, além de darem sustentação ao governo Bolsonaro.
A maior parte da bancada evangélica é contra a igualdade de gênero, o aborto, a eutanásia e o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Além disso, se opõe à criminalização da discriminação contra homossexuais, bissexuais e transexuais. Sua grande bandeira é a aprovação do Estatuto da Família, que define a família apenas como o núcleo social composto a partir da união entre uma mulher e um homem.
Ao longo da história, religião e política caminharam juntas. O governante de plantão sempre se cercou de sacerdotes para consolidar seu poder sobre a sociedade, pois os religiosos são considerados o canal privilegiado entre Deus e os comuns mortais.
Mas, em pleno século 21, quando o avanço civilizatório deveria consolidar a separação salutar entre religião e Estado, presenciamos o movimento reverso: pautas religiosas influenciando cada vez mais as políticas públicas do governo brasileiro, principalmente na estratégica área da educação.