Bolsonaro: mito ou farsa?

O presidente Bolsonaro passou os quase três anos do seu governo ameaçando as instituições democráticas. Nos últimos dois meses, ele percorreu o país, montado numa motocicleta e sem máscara, mobilizando seus apoiadores para realizar um grande ato antidemocrático no dia 7 de setembro.

Bolsonaro esperava reunir 2 milhões de bolsonaristas na Avenida Paulista. Compareceram 200 mil, se muito. A manifestação foi um fiasco em termos de impacto golpista. Só serviu para que o presidente se afundasse, mais ainda, na sua retórica vazia, cheia de agressões descabidas aos ministros do STF e críticas ao voto impresso.

O bloqueio dos caminhoneiros, mobilizados por Zé Trovão, aliado de Bolsonaro e foragido da justiça, começou atrapalhando o trânsito nas vias federais em 15 estados. Eles acreditaram que o golpe estava na esquina. Como Bolsonaro não concretizou seu sonho golpista e fez apelo para que fossem trabalhar, a maioria recolheu as bandeiras verde e amarela, desligou a música de Sérgio Reis e tomou o rumo da estrada. Muitos deles se sentiram traídos e abandonados pelo presidente.

Os atos antidemocráticos promovidos por Bolsonaro serviram para demonstrar o quanto ele está isolado da realidade do país. Sem projeto para alavancar a economia, diminuir a inflação, minimizar o desemprego, baixar o preço da gasolina e sanar a crise energética, Bolsonaro, em seus discursos, só se preocupou em achincalhar o STF e demonstrar seu pavor com a possível prisão.

A 3º lei da física desenvolvida por Newton também se aplica à política. Não há ação sem reação. Os discursos contundentes proferidos pelos ministros do STF Luís Fux e Luís Roberto Barroso em defesa das instituições e do Estado democrático de direito foram aulas de democracia, civilidade, coragem e firmeza.

Os dois ministros também deram o tom de como será o tratamento com Bolsonaro daqui pra frente. O presidente e seus filhos sentirão na própria pele a ira de um judiciário agredido e desafiado na sua legitimidade e integridade. Não dá pra esquecer que os bolsonaristas Sara Winter, Daniel Silveira, Roberto Jefferson e Osvaldo Eustáquio estão presos.

Ao mesmo tempo, partidos de centro e de esquerda estão se mobilizando para exigir a abertura do processo de Impeachment. O que provavelmente não ocorrerá por inércia de Arthur Lira, presidente da Câmara Federal, apesar da coleção de crimes de responsabilidade praticados pelo presidente. Mas demonstra que o clima político tem piorado, e muito, para Bolsonaro.

O rugido do leão transformou-se num chiado de rato. Aconselhado pelo pusilânime Michel Temer, Bolsonaro lançou um documento confuso onde desdisse tudo que vociferara dois dias antes. O presidente, assim como o governo, continua confuso e sem rumo.

As manifestações golpistas fracassaram. Bolsonaro está mais enfraquecido depois delas. A concretização da ameaça de golpe não passou de bravata. Ele não encontrou respaldo entre os grandes empresários, financistas e os partidos do Centrão, aqueles que, de fato, mandam no país.

Temendo perder a reeleição no próximo ano e sem noção do que está acontecendo, só resta a Bolsonaro continuar com sua estratégia agressiva, mobilizando seus asseclas com discursos de ódio e arroubos autoritários. Vamos ver se seus apoiadores continuarão a acreditar que o presidente é um mito ou um farsante, como falou o presidente do TSE, ministro Barroso.