Cristofascismo: a religião como mecanismo de controle

Você já ouviu falar em Cristofascismo? Na coluna de hoje falaremos um pouco sobre o termo, criado pela teóloga alemã Doroyhee Solle para descrever as igrejas Alemãs que apoiaram o nazismo de Adolf Hitler, nazismo que teve como consequência um verdadeiro genocídio através das milhões de mortes nos campos de concentração da segunda guerra mundial.

Nos sombrios tempos atuais onde pastores ocupam e negociam cargos, funções e barras de ouro, onde o governo parece assentar-se em uma teocracia velada para os desmandos do autoritarismo, nunca é demais lembrar dos absurdos ocorridos na história recente do mundo para que, através da reflexão e de uma consciência crítica, a humanidade se torne humana de fato e jamais volte a repeti-los.

O fascismo se caracteriza por ser um governo nacionalista e autoritário, totalitarista, corporativista, ditatorial e militarizado, desprezando direitos humanos, liberdade em todas as suas formas, as artes e as atividades intelectuais. Além disso, utiliza-se da religiosidade do povo para tentar manipulá-lo a partir de sua fé. A imagem de um líder viril é também é essencial para a conquista de popularidade para facilitar a governança (NEGREIROS, LOPES, 2019).

O Cristofascismo é filho do fascismo. É a teologia do poder autoritário. No Brasil o termo se manifesta, não tão distante de sua origem, através da prática do ódio, do racismo, da xenofobia, incentivados pelas grandes corporações “cristãs” – evangélica e católicas – que se aliaram ao poder em detrimento da população, de seus fiéis e cegos seguidores. Assim são destruídas as políticas públicas voltadas para a assistência social, a inclusão, educação, ciência, serviços públicos e movimentos heterodoxos. Esse é um projetos de poder! Na ausência de políticas garantam a dignidade e os direitos individuais e coletivos, há o caos social e a alienação. Esse é um terreno fértil para a dominação, subjugação e subalternização da população.

Segundo o teólogo Fábio Py (2020), se utiliza da “linguagem cristã do deus bélico e despótico tão importante para as grandes agências fundamentalistas americanas”, e apesar de agir no coletivo, seus líderes, tem desprezo pelas instancias coletivas, haja vista estarem diretamente ligados à logica do mercado e ao neoliberalismo: o cristofascismo une moral cristã, racista e a discussão econômica ultraliberal de dissolução do estado” (PY, 2022). É a teologia da prosperidade – deles!

O maniqueísmo é outra artimanha do fascismo. A eterna guerra entre o bem e o mal. A construção das imagens maniqueístas servem de pavimento para cristofascismo. A simbologia utilizada na construção das imagens é algo determinante. Esquerda, vermelho, comunismo – geralmente associam ao mal; os símbolos pátrios, as cores da bandeira, a direita – geralmente associadas ao bem. Estas imagens associadas ajudam na construção de arquétipos e comportamentos que tornam fácil a manipulação das pessoas que não tem uma formação humana e crítica livre. É assim que as igrejas, estas igrejas cristofascistas, aprisionam suas “ovelhas”. “Lobos em pele de cordeiro” – para usar o ditado popular!

Estas igrejas, com a ajuda de um governo fascista, tendo claro seu projeto de poder e se utilizando de concessões públicas de TV e Rádio, se multiplicam rapidamente e, principalmente, nas áreas onde há uma população mais vulnerável e privada dos diretos e garantias constitucionais. Quando o desespero bate à porta, os líderes dessas instituições eclesiásticas fascistas, estarão lá para tomar para si até a alma do cidadão mais desavisado. É nesse sentido que é preciso abrir os olhos e sair da caverna que aprisiona, pensar fora da caixa, pois, “Quando o homem compreende sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la” (FREIRE, 2011, p. 38). Lutemos contra o Fascismo, os regimes autoritários e seus filhos, paridos no sangue e na lágrima de todos nós!

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 14. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

NEGREIROS, Regina Coeli Araújo Trindade; LOPES, Carolina Trindade. Diversidade étnica e religiosa no Brasil: desafios para a Cultura de paz. BAGGIO, Vilmar (org.). DNA Educação. 2 ed. Veranópolis: Diálogo Freiriano, 2019.

PY, Fábio. Cristofascismo, um dos filhos do neofascismo. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/616058-impulso-feminino-no-neofascismo-cristao-de-bolsonaro-quatro-cenas-recentes-de-inicio-do-ano-eleitoral-artigo-de-fabio-py. Acesso em 28 mar 2022

PY, Fábio. Bolsonaro, a teologia do poder autoritário e um diagnóstico político para 2022. Entrevista com Fábio Py. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/617022-bolsonaro-a-teologia-do-poder-autoritario-e-um-diagnostico-politico-para-2022-entrevista-com-o-professor-fabio-py. Acesso em 28 mar 2022