Esquerda ou Direita?
Mônica Lemos –
Esquerda ou direita, para mim, sempre foi apenas uma questão de direção, sentido mesmo. Se for virar para a direita, seta pra cima. Se fora para esquerda, seta para baixo. Noivado, aliança na mão direita. Casou, aliança na mão esquerda. Direita funcional, destro. Esquerda funcional, canhoto. Isso era praticamente tudo que sabia sobre direita e esquerda.
Pois bem. De repente, defender os “valores morais e a família” é ser pessoa “de direita”. Mas não pode ser qualquer família. Tem que ser família tradicional, do tipo pai, mãe, filho, outro filho e pode ter também uma filha (tá valendo a “fraquejada”). Família só de mãe e filho, não. Pai e filho, não. Mãe e mãe e filho, também não. Pai, pai e filho, nem pensar. A proteção da família que a pessoa de direita se refere é somente família “de verdade”!
A pessoa de direita também é patriota! Mas bate continência para o Presidente da América. Sonha em morar por lá, nem que seja para limpar o chão, sem qualquer direito trabalhista. Só não dá pra fazer isso aqui na “pátria amada”. O que os amigos do churrasco de domingo diriam?
Ah, ainda sobre os valores morais e proteção da família, está autorizado ter amante, afinal, homem é homem! Não pode é divorciar, porque casamento é sagrado! Com a amante está liberado fazer o que não pode fazer com a esposa. Esposa é mulher séria. E se a amante engravidar, só mandar abortar. Não pode atrapalhar a harmonia da família. Mas é o mesmo pessoal que é contra o aborto e vai para frente de um hospital dizer que uma criança de dez anos grávida, após ser estuprada pelo familiar, vai para o inferno se abortar.
A bandeira é de anticorrupção. Mas tem de tudo! De rachadinha até furar a fila da vacinação! “Bandido bom é bandido morto!” Desde que não sejam seus filhos, amigos e parentes. Sonegam impostos e também direitos de seus empregados, mas vão para as ruas, verde e amarelo, prontos para “lutar por um Brasil mais justo!” Justo exatamente para quem?
Invenção do povo da esquerda esse negócio de Direitos Humanos. Direitos Humanos é só para os humanos direitos!
E falando da esquerda, não da direção, mas do pessoal da esquerda. Esses não ficam muito atrás quando o assunto é radicalismo. Se for pastor, crente ou católico fervoroso, é gente alienada! Dizem que não aguentam nem ouvir, mas falam de tolerância e respeito ao contraditório.
Gente boa mesmo, somente seus amigos. Todos honestos, conscientes, críticos, atentos e de uma lucidez invejável. Todos amam os animais, a natureza, e são pais espetaculares porque são “amigos” de seus filhos. Se orgulham porque leram Marx, Hobbes, Rousseau, Platão, Aristóteles, eles leram muito! Não assistem novelas ou realities (pelo menos, dizem que não, mesmo que deem uma “espiadinha” vez por outra).
Não pisam na grama, não poluem rios, defendem todo tipo de minoria, se envaidecem por isso. Tem um “quê” de superioridade. Quase uma raça evoluída. Bem resolvidos, dizem o que querem e pensam que o mundo tem que tolerar. E claro, a democracia só existe mesmo se for meu time, meu candidato e meu filho quando ganha a disputa. Uma bolha de autorreverência, sem defeitos! Exceto esse: não possuir defeito algum.
Perfeitos, criticam tudo e todos. Dificuldade em ouvir, e reverberam suas falas com pessoas que pensam daquele mesmo jeitinho. Fora daqueles parâmetros, é gente que não presta.
Não há ninguém inteiramente certo. Somos bons, somos maus. Somos generosos, somos egoístas. Achamos a mesma cena ridícula ou interessantíssima, depende se simpatizamos com a pessoa que está ali em ação. Sabemos elogiar. Sabemos criticar. Temos admiração. Temos inveja.
Veja que somos uma massa homogênea de coisas boas e ruins. Um purê de batatas, após amassadas as batatas, misturadas ao leite e à manteiga. Impossível separar os ingredientes. É isso que somos!
Podemos ser maravilhosos para aqueles que simpatizam com a gente e insuportáveis para outros tantos que nos invejam, ou simplesmente, antipatizam, por nada que fizemos, só antipatizam por existirmos.
Acredito que a palavra de ordem do momento seja equilíbrio!