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‘Política Por Elas’ entrevista Valdiney: o escolhido-rejeitado

Posse de Valdiney Veloso está prevista para esta semana

A indicação de Valdiney Veloso Gouveia foi assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Com a escolha do terceiro nome na lista tríplice elaborada pela instituição, o Bolsonaro quebrou a tradição consolidada historicamente de escolher sempre o primeiro colocado na eleição interna.

Gouveia obteve uma soma ponderada na votação que não ultrapassou 106,496 pontos, bem atrás da primeira colocada, Terezinha Domiciano, da Chapa 2, que obteve a soma ponderada e normalizada de 964,518. Muito atrás ainda da Chapa 1, encabeçada por Isac Medeiros, que obteve soma ponderada e normalizada de 920,013. Apesar da boa pontuação dos dois primeiros colocados na corrida eleitoral, o nome de Valdiney Veloso sempre foi colocado como favorito por causa do alinhamento ideológico com o presidente.

O Blog ‘Política Por Elas’ entrevistou o escolhido. Durante a conversa, Valdiney negou a escolha tenha sido acertada em viés político,  que deve trabalhar para que a UFPB figure entre as melhores do Nordeste, pediu calma à comunidade acadêmica e garantiu que quem quiser trabalhar, terá vez na gestão.

Política por Elas’: O senhor recebeu com surpresa ou havia algum tipo de conversa interna, de ajuste sobre sua escolha?

– Nenhum tipo de conversa, não foi surpresa, no sentido de que se estávamos na lista, eramos uma das três possibilidades. imaginávamos que não poderia sair outro nome. Não foi surpresa nesse sentido, mas obviamente que ficando  felizes pela indicação, reconhecendo quase três décadas de trabalho e de muita dedicação para a Universidade Federal da Paraíba, no ensino, na pesquisa e na extensão. Então, estamos para somar e não para excluir qualquer pessoa.

‘Política Por Elas’: Diante dessa escolha, quais serão suas prioridades para a Universidade Federal da Paraíba ?

-A prioridade é que a Universidade Federal da Paraíba volte a crescer. De fato, será alcançar a quarta melhor universidade do Nordeste. E para isso, precisaremos de muito trabalho. Nossa carta proposta é pública, mas inicialmente, nós precisamos tomar pé de como está a UFPB, em seus diversos setores. Como está o Hospital Universitário, biblioteca, para que possamos efetivamente poder dar a resposta à comunidade acadêmica. Nós precisamos ir além.

‘Política Por Elas’: O senhor foi o que teve menos votos e existe uma tradição de se colocar o primeiro colocado nas eleições. Há considerações de uma eleição branca e que não foi respeitado o processo democrático? Estão previstas manifestações contrárias a sua indicação.

-A manifestação é ato democrático. Vejo com normalidade as manifestações.
A escolha é prerrogativa do presidente. Eu sou um servidor público federal que sirvo ao público. Se o presidente entende que o meu nome é o melhor, serei honrando à universidade onde estamos e faremos o melhor para que ela cresça. Não vejo nenhum ato de anormalidade, se não, de plena legalidade.

‘Política Por Elas’: Existe um Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) movida  pelo Partido Verde (PV) no Supremo tribunal Fedral contra a nomeação daqueles que não foram os primeiros colocados nesta lista tríplice. O ministro do STF, Edson Fachin, indica que o governo deve obedecer a lista tríplice indicando o primeiro colocado, respeitando o processo democrático. A questão já está judicilizada. Como o senhor encara essa intervenção?

-Essa temática extrapola os limites da Universidade. É uma temática jurídica, não me cabe julgar juiz. Cabe ao ministro do Supremo Fachin levar adiante e aos demais ministros julgarem, e ao presidente e a Procuradoria da República mostrarem suas alegações. Então, não me cabe juízo algum sobre uma ação no STF ou qualquer outra ação que queiram dar ingresso.

‘Política Por Elas’ : O senhor teme que essa situação atrapalhe a governabilidade da UFPB?

– Não há temor. Nós seguimos trabalhando enquanto for possível trabalhar e faremos tudo para que a UFPB cresça, enquanto formos necessário, seguramente estaremos trabalhando.
Agora veja, eu sou professor da UFPB por concurso e jamais deixarei de ser. Inclusive depois de aposentado serei. Não tememos nada, nunca tivemos cargo, qualquer indicação. Nossa campanha foi realizada com R$ 600; não tivemos apoio de partidos políticos, como diversas candidaturas, não tivemos apoio de empresas. Não queremos que a instituição tenha um viés político partidário, senão,  que seja uma instituição acadêmica de pesquisa, inovação e tecnologia.

‘Política Por Elas’: Dentro da lista tríplice, os professores e doutores não apresentaram nenhum voto a sua chapa. E isso pode ter se dado por causa da questão do alinhamento da defesa do projeto Future-se, que apoia o financiamento privado na universidade pública? Como o senhor vê essa questão?

-Criou- se um mito de que a Universidade vai ser privatizada. Isso é mito de pessoas que tem ligação político partidário. Ou a universidade se abre, ou fecha de uma vez. Não significa jamais privatizar. A UFPB não foi, não é, e nem será privatizada, será pública e será tanto mais pública, segundo consigamos estabelecer vínculos com empresas e organizações não governamentais. Temos uma universidade que não se comunica com a sociedade. A sociedade é isso: trabalho, organização, estrutura, inclusive com entidades internacionais. Não podemos viver em uma redoma, é isso ué faz a Universidade Federal da Paraíba não tão grande como deveria ser.

‘Política Por Elas’: Diante de todo esse cenário, o que dizer à comunidade acadêmica?

-Que tenha tranquilidade. E que tenha certeza de que todos que queiram trabalhar de forma efetiva para ter a UFPB grande, as portas estão abertas. Nós queremos colaboração, queremos empenho, queremos que a sociedade se orgulhe de seu filho, sua filha ir para Universidade Feder a Paraíba e não tenha medo de segurança, drogas e qualquer outra coisa. Queremos uma instituição de respeito e vamos receber apoio de colegas para isso.

A reportagem do Blog Política por Elas procurou a professora Terezinha Domiciano, primeira colocada, mas ela não se posicionou sobre o assunto.
O que diz a Lei a respeito da nomeação do reitor?
A Constituição Federal manda o presidente escolher dentro da lista tríplice. A lei em vigência prevê que o reitor e o vice reitor sejam nomeados pelo presidente e escolhidos entre professores dos dois níveis mais elevados na carreira ou que tenham o título de doutor, cujos nomes figuram na lista tríplice. Bolsonaro fez a escolha. E ela veio  contrariando o histórico consolidado nos últimos 40 anos.

Vamos relembrar o histórico do processo de escolha. A chapa mais votada foi a comandada pela professora Terezinha Domiciano, que obteve a soma ponderada e normalizada de 964,518 pontos. O segundo colocado foi Isac Medeiros, que obteve soma ponderada e normalizada de 920,013. O terceiro no processo foi justamente Valdiney Veloso, com humilhantes 106,496 pontos.

E tem mais: A composição da lista tríplice foi elaborada pelos órgãos deliberativos da UFPB sem que um único voto fosse dado em favor de Valdiney Veloso. Naquela oportunidade, ele só compôs a lista tríplice por força de uma decisão judicial. O mandato tem duração de quatro anos. A Universidade Federal da Paraíba tem o terceiro maior orçamento do Estado (R$ 2,2 bilhões), menor apenas que o do governo do Estado e de João Pessoa.