Opinião

Os caminhos de João e o que 2020 diz sobre 2022

Diz a sabedoria popular que nada acontece por acaso. Há quem defenda que tudo é obra do divino, mas há também quem acredite que aquilo que se colhe é produto do livre arbítrio nosso de cada dia. Uma coisa é certa, na vida e na política, decisões erradas podem, como em um carteado, por o jogo a perder.

Veja o PSB, depois de conseguir furar a bolha dos partidos tradicionais que se revezavam no comando da capital e de outras cidades da Paraíba; depois de crescer e de se tornar competitivo a ponto de eleger um governador em primeiro turno em 2018, se partiu. Resultado de uma sucessão de erros de estratégias. O partido encolheu em 2020. Perdeu 47 das 52 prefeituras que fez em 2016. Em João Pessoa, capital, fez apenas 7.063 votos (12º mais votado), não elegeu um vereador sequer, e Ricardo Coutinho, maior líder do PSB paraibano, ficou em sexto na disputa para prefeitura.

Boa parte do patrimônio do PSB seguiu com João Azevedo, ex-aliado de primeira hora de Ricardo. No Cidadania, Azevedo conseguiu a façanha de eleger 42 prefeitos. Em 2016, a legenda, ainda como PPS, só fez um. Desempenho que se repetiu na capital. Mesmo sem lançar candidato ao Executivo já que apoiou Cícero Lucena (PP), o partido obteve o maior número de votos (32.490). Na Câmara Municipal, elegeu 3 vereadores. O Cidadania é hoje, o que o PSB foi quatro anos atrás porque hoje está com a máquina na mão.

Outra parte dos girassóis paraibanos se voltou para o Avante, a exemplo do presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba, deputado Adriano Galdino. Foi o quarto partido mais votado na capital (32.017). Esses movimentos todos (você há de concordar), não são fruto do acaso, mas resultado de escolhas e de cartas mal jogadas lá atrás – e de nossas escolhas podem mesmo surgir resultados completamente aleatórios e imprevisíveis. Ricardo Coutinho que o diga!

E quanto à escolha de João? E não falo do Cidadania, mas do apoio ao PP, o Progressistas. O partido do Centrão foi um dos que mais cresceram no país e na Paraíba este ano. Fez 22 prefeituras aqui contra seis nas eleições municipais de 2016. Em João Pessoa elegeu Cícero Lucena e foi a sexta legenda mais bem votada da capital com 31.206 votos. O PP conseguiu eleger mais uma vez o vice-prefeito de Campina Grande, a segunda maior cidade do Estado. Neto do atual vice Enivaldo Ribeiro, Lucas Ribeiro é filho da senadora Daniella Ribeiro, e sobrinho do deputado federal Agnaldo Ribeiro. Ela, a primeira senadora da história da Paraíba.

Em 2018 eu escrevi: “o progressistas não quer fazer só deputados. Quer visibilidade. Quer um prato cheio de possibilidades (…) O PP quer estar no topo.” Naquela altura até jogou charme e ensaiou conversas com João Azevedo. De lá pra cá, fez costuras importantes (inclusive nacionalmente) e ganhou musculatura. Pelo histórico, já há quem projete Daniella Ribeiro como candidata ao governo em 2022. E João?

O caminho natural seria que João tentasse a reeleição. Engrossar o coro do PP agora seria mais um desses equívocos que poderiam minar esse projeto. A não ser que João tenha uma carta na manga. A não ser que a aliança com o PP não seja fruto do acaso e passe por um grande acordo para 2022 com Daniella na cabeça de chapa para o governo da Paraíba e João para o Senado. Por que não? O PP se consolidaria na Paraíba, João se projetaria nacionalmente e ainda teria prerrogativa de foro por mais oito anos.

Terá sido essa a escolha de João? Uma tacada de mestre ou um tiro no pé? Claro, é uma hipótese. Hipótese que levanta outra outra questão: por que João entregaria a estrutura do governo de mão beijada para o PP e os Ribeiro? Só o tempo dirá. Até 2022 conjecturas não faltarão. Façam suas apostas.