Tragédia em Pipa (RN) completa um mês. Na Paraíba, especialista alerta para desmoronamento da barreira do Cabo Branco
Há 1 mês uma tragédia tingia de luto um dos pontos turísticos mais badalados do Rio Grande do Norte. Hugo Pereira, Stela Souza, e o pequeno Sol, de 7 meses, filho do casal, morreram soterrados. Eles aproveitavam a sombra de uma falésia na praia de Pipa quando a barreira de quase dois metros despencou.
Esses deslizamentos, afirmam especialistas, não são raros no Nordeste. Isso porque os paredões formados há milhões de anos sofrem diferentes tipos de danos. Sendo assim, o que aconteceu lá, poderia acontecer também aqui, no litoral paraibano. Francisco Sarmento, professor-doutor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), explica que “são falésias que possuem a mesma constituição geológica básica, formada por arenito e, portanto, nas condições em que se encontram, estão sujeitas às ações naturais e antrópicas, ou seja, ações propiciadas pelo homem. No caso das ações erosivas naturais, as principais que nós temos são a chuva, o vento e a própria energia oceânica que contribui para solapar essas falésias. Foi mais ou menos o que aconteceu na praia de Pipa”.
E quanto à falésia do Cabo Branco, conhecida internacionalmente por ser o extremo oriental das Américas? Intervenções no local têm sido feitas pela prefeitura de João Pessoa com o objetivo de impedir que o avanço do mar cave o sopé da barreira e ela desmorone. Sarmento faz críticas à obra de revitalização “em função dos prejuízos causados na praia adjacente do cabo branco”. Ele se refere às pedras que se soltaram de gabiões e se espalharam pela areia, mudando a paisagem natural. Mas o professor reconhece que o enrocamenteo da falésia, que é justamente a implantação das pedras ao redor do paredão, podem evitar a queda do talude, ou seja, da parte superior: “eu diria que agora estaria [a barreira] relativamente protegida pra esse tipo de acidente em função das rochas que foram colocadas no sopé impedindo que o mar mande sua energia e desgaste a base”.
O professor alerta para o perigo de desmoronamentos e mortes pela instabilidade da falésia, mesmo depois do trabalho de drenagem feito pela prefeitura. Ele lembra que um pedaço considerável do asfalto na parte superior já cedeu e que, ainda assim, muita gente visita a área e se expõe aos riscos: “o problema do Cabo Branco está na parte superior da falésia porque hoje já temos desmoronamentos, temos uma área comprometida completamente. O asfalto já foi desgastado, erodido e tombou num acidente que, em termos de geologia, é semelhante ao que houve em Pipa, felizmente não houve nenhuma vítima”.
O trânsito na parte superior da barreira está interditado. Em 2014, já na gestão Luciano Cartaxo, por causa do avanço da erosão, a prefeitura bloqueou parcialmente o acesso. Em 2017, a ladeira do Cabo Branco foi fechada para carros, motos e todos os veículos pesados. Ano passado, até o tráfego de bicicletas foi suspenso. Tudo para impedir o desgaste da falésia. A medida é importante, mas Sarmento diz que não basta. Para evitar acidentes que podem ser fatais é preciso interditar o acesso do público à área que apresenta grande instabilidade: “hoje o trânsito lá em cima da falésia é interditado, mas dezenas de pessoas se aglomeram todos os finais de semana naquela área e não há sequer um isolamento feito pela Defesa Civil. As pessoas ficam lá a tirar fotografia sem perceber muitas vezes o risco que correm por estarem sobre uma barreira em que, muitas vezes, abaixo do asfalto em que elas pisam, já não há mais suporte”.
O que diz a Defesa Civil?
Noé Estrela, coordenador da Defesa Civil de João Pessoa, diz que a área superior da barreira do Cabo Branco “já foi isolada várias vezes, mas as estacas de proteção e arames são retirados pela população parar tirar fotos no local”. Segundo ele, já foi solicitado à Secretaria do Meio Ambiente (SEMAM), “que tem mais facilidades de aquisição neste período, a compra de novas estacas para fazer a reposição ainda este ano.