Opinião

Histeria coletiva, colapso na saúde e o papel do Estado para frear a COVID em João Pessoa

O avanço da Covid-19 na Paraíba e a ameaça de colapso no sistema de saúde me fez lembrar da teoria hobbesiana: “o homem é o lobo do homem”. Segundo Thomas Hobbes, as pessoas são naturalmente más, violentas, egoístas; e em seu estado natural, tudo podem: tomar, matar, vilipendiar. É o eterno conflito que encontra trégua num pacto social que consiste em abrir mão da liberdade em troca da segurança do Estado. O Estado, por sua vez, impõe regras, limita a liberdade em nome do interesse público. Daí vem seu “Poder de polícia”.

O Estado pode criar obrigações. É o único com o uso legítimo da força. Os decretos assinados pelo Governo do Estado são uma demonstração dessa força, mas diferente do homem hobbesiano, a insubordinação tem sido a regra agora. Nem todos estão dispostos a abrir mão da liberdade, mesmo que isso represente insegurança. Desde a flexibilização de medidas restritivas na Paraíba, com abertura de comércio, escolas, retomada de shows, tem-se multiplicado os grupos que ignoram as medidas preventivas, dispensam o uso de máscaras, lotam restaurantes, bares, shoppings, praias. É a negação da pandemia, dos riscos em nome de uma liberdade irracional, suicida e homicida. É o egoísmo em seu estado cru. É o homem lobo do homem.

O governador João Azevêdo gravou vídeo pedindo bom senso face ao estado de caos que se anuncia. Mas nestas condições, apelar ao bom senso soa disfuncional, inoportuno e pouco efetivo. Há uma cegueira coletiva que ignora a ameaça potencial que o coronavírus representa. Não bastam as milhares de mortes diárias, o recrudescimento da doença, a falta de vacina, a inoperância do governo federal… Nada disso parece importar para uma massa atomizada pela ilusão da invencibilidade. Pedir bom-senso é gastar latim.

Prefeitura de João Pessoa e governo do estado anunciaram uma parceria: vão criar juntos mais 150 leitos para pacientes da Covid no Hospital Santa Isabel, Pronto Vida, Hospital Universitário. Outras medidas foram tomadas: nos bairros dos Bancários e Jardim Oceania, as UPAS voltaram a atender exclusivamente casos da doença. Ventiladores novos foram anunciados. Tudo paliativo. Remédio que trata sintoma mas não vai na causa do problema. Abrir novos leitos e não tomar medidas rígidas para diminuir a circulação de pessoas é como tapar o sol com uma peneira.

Ainda na manhã desta segunda-feira (22), o governador João Azevedo e o prefeito da capital devem anunciar novo decreto e medidas contra a Covid-19. João Pessoa concentra, desde o início da pandemia, o maior número de casos da doença. Cícero já anunciou que pretende adotar toque de recolher das 22h às 5h, proibir a venda de bebida alcoólica a partir das 20h, limitar o funcionamento de bares e restaurantes até às 22h e reduzir o horário de funcionamento do comércio.  Da parte do governo, João Azevêdo deve adotar estratégias que passam pelo fechamento total de casas de eventos, igrejas, escolas e até mesmo da orla de João Pessoa por 15 dias. Bares e restaurantes devem passar a funcionar apenas com entrega em domicílio.

Há os que dizem que, mesmo diante do cenário caótico, a economia não pode parar. Mas e todo o resto? E o custo disso? Por acaso existe crescimento da economia (ou até mesmo sua recuperação) com gente morrendo? A pandemia revelou o egoísmo nosso de cada dia. As pessoas relaxaram demais. Os governos adiaram demais pela pressão e lobby do mercado. Mister, contudo, que o Estado faça valer agora o poder de polícia que tem já que sua função precípua é cuidar das pessoas. É preciso frear essa histeria coletiva e domar o lobo que habita em nós. Por bem ou por mal.