Opinião

Distritão era bode na sala

A derrubada do distritão nesta quarta-feira (11) na Câmara Federal tem sido celebrada por políticos, especialistas  e  boa parte da população que entende o tamanho do retrocesso que seria a adoção do modelo. A mudança só empoderaria ainda mais os donos de legendas, dificultaria a eleição de novos candidatos ou de partidos com menos recursos, reduzindo, assim, a representatividade. Outra: com o distritão, o valor dos votos também mudaria e boa parte deles teria peso zero, ou seja, o descarte passaria a ser regra porque votos de legenda não seriam computados. Quer ver a dimensão disso? Em 2018, se o distritão estivesse valendo, mais de 64 milhões de votos válidos teriam sido jogados na lata do lixo.

Em um país marcado por forte alienação eleitoral com expressiva quantidade de votos brancos, nulos e de abstenções, a participação popular ficaria ainda mais comprometida com o distritão. Seria a mais pura expressão do retrocesso. Sobre esta questão, a da participação, cabe um parêntese que trago nas palavras do professor e economista Marcio Pochmann: “Paradoxo eleitoral. Segmentos da sociedade mais críticos ao atual sistema político brasileiro poderão ser os responsáveis por mantê-lo intacto em 2018. Ao votar em branco, nulo ou se abster, o eleitor dificulta a ascensão do novo, validando a permanência do antiquado, que detesta”. Em outras palavras, o chamado voto de protesto acaba servindo para manter o status quo.

A troca do sistema proporcional pelo distritão não seria solução para o eleitor que não se sente contemplado pelos opções postas a cada eleição. Tornar a disputa mais equilibrada entre os participantes, com distribuição de recursos mais justa, seria um bom começo. Mas tenho pra mim que o distritão era o bode na sala. O modelo que já foi derrotado duas vezes nos últimos anos voltou à ordem do dia por outro motivo: desviar o foco do grande objetivo dos parlamentares que é retomar as coligações em 2022. A discussão ainda vai pra Câmara mais uma vez e depois pro Senado. Se aprovada servirá aos partidos de aluguel e aos famosos puxadores de voto. Resultado da pressão dos nanicos que sofreram o impacto da reforma eleitoral de 2017 em 2020 quando muitos ‘figurões’ acabaram não se elegendo para as Câmara Municipais. E ao que tudo indica, há consenso entre as duas casas para tocar essa matéria. É a política como ela é.