Opinião

Política em pílulas

Para bom entendedor

Arcebispo de Aparecida, a 180 km de São Paulo, dom Orlando Brandes fez uma pregação contundente na missa desta terça-feira (12), feriado de Nossa Senhora Aparecida. Disse: “para ser pátria amada não pode ser pátria armada”. Dom Orlando não citou nomes, mas deixou clara sua reação à política da mentira, da violência e ao discurso de ódio que toma o país. Pra completar o sermão, uma referência para não deixar dúvidas quanto ao destinatário da mensagem: “pátria amada não é transformar crianças inocentes em crianças fuzil”.

Pazuello de bata

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, não deve escapar de novo depoimento – o terceiro – na CPI da Covid. Mas antes, o presidente da Comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), quer ouvir um representante da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), sobre o ‘kit covid’. A Conitec adiou a divulgação do resultado dos estudos científicos sobre o chamado ‘tratamento precoce’ que cairiam como uma luva nas mãos da CPI. Aziz diz que isso tem o dedo de Queiroga. O paraibano estaria desprezando a ciência para agradar ao presidente  bem ao estilo Pazuello: “ele manda, eu obedeço”.

Vale tudo

Não é de hoje que o paraibano vem acenando aos mais radicais. Já estirou dedão, já suspendeu vacina para adolescentes sem qualquer justificativa científica. Antes de ser ministro, Queiroga nunca perdeu a oportunidade de transitar nos gabinetes em Brasília. Agora tenta viabilizar uma candidatura ao Senado e pra isso precisa do apoio da militância bolsonarista. Nessa lógica, ele aposta em ser menos médico e mais político.

Esfriou…

Na política, alianças geralmente têm vida curta e os ‘afetos’ arrefecem. A instabilidade é a regra e as eleições dão a medida. O MDB que o diga! A um ano da disputa para o governo do Estado, o presidente da legenda na Paraíba ensaia rompimento com João Azevêdo (Cidadania). Veneziano Vital do Rêgo quer mais que um mandato, quer relevância local. Resta saber se o ‘desmame’ se dá no tempo certo. Um cálculo errado traz custos altos como a desidratação política e eleitoral, e o tiro pode sair pela culatra.

Esquentando

Enquanto isso, João Azevêdo vai arrumando outras peças. Com ou sem Veneziano, tem costurado apoios que vão de um canto a outro do espectro ideológico. De prefeitos a ex-prefeitos. Caso de Romero Rodrigues (PSD). As conversas existem, ninguém nega, e delas podem surgir novo agrupamento.  Liderança forte em Campina Grande mas abandonado em seus propósitos bolsonaristas pelo presidente nacional de seu partido, Romero pode encontrar em João o caminho da sobrevivência política. João, por sua vez, vê no provável aliado chances reais de crescimento eleitoral na conservadora Campina. Sem romantismo. Só matemática

E por falar em costuras…

A Frente de Renovação Parlamentar está no período de engorda. O grupo, que já nasceu com mais de três dezenas de interessados com capacidade de levantar alguns milhares de votos, segue o princípio da independência – pelo menos por enquanto. A hora é de captação de recursos humanos. O objetivo é furar a bolha sistêmica que privilegia quem já tem mandato e recursos. Em dez dias, os integrantes devem voltar a se reunir em Campina Grande. Definido o formato e as normas internas que os regem, os integrantes trabalham para aumentar essa base e ampliar a visibilidade de uns para todos. Se a Frente queria fazer barulho, está conseguindo.

Um partido rachado

Todo partido que cresce e se burocratiza, cria estratos e conflitos internos. Em mais um round da saga PT na Paraíba (que já teve direito a intervenção e tudo), o presidente estadual da legenda, Jackson Macêdo, foi voto vencido quanto ao apoio ao projeto de reeleição de João Azevêdo. Na última sexta-feira, por 17 a 4, a cúpula petista no estado optou pela permanência na base do governo e pela abertura do grupo para fortalecer a candidatura de Lula contra Jair Bolsonaro. Imperou, mais uma vez, o interesse macro no lugar das questões domésticas. Nesse caso, porém, Macêdo ficou isolado.

Coisas da política

No PT, com bênçãos de Macêdo, o ex-socialista Ricardo Coutinho, hoje desafeto de João, vai ter que engolir a decisão da maioria. Novas deliberações podem alterar esse desenho? Pouco provável uma vez que Lula espera o apoio do atual governador e este, por sua vez, conta com Lula como cabo eleitoral. Cedo ou tarde, estarão todos no mesmo palanque e terão que dar uma trégua no orgulho e no ressentimento. Pra quem já se aliou a adversários políticos históricos, como Ricardo, isso parece fichinha. João terá tanto pragmatismo? Bem, a política é a arte do possível. Nela, assim como na vida, só não há solução pra morte.