Opinião

Falta de saneamento básico compromete leitos do SUS

Levantamento do Ministério da Saúde mostra que a falta de saneamento básico respinga no Sistema de Saúde Público e custa muito caro: R$ 16 milhões de reais foram gastos em leitos do SUS para tratar 41.136 pacientes com doenças provocadas pela falta de saneamenkto básico no Brasil, em 2018. Dinheiro que poderia ser usado em prevenção, em saúde. Só no nordeste, 20.567 pessoas precisaram de atendimento e internação porque a falta de água tratada e de esgotamento sanitário as deixaram doentes.

Há um descaso público e notório que leva a outro problema: porque esses leitos estão ocupados, falta espaço para tratar pacientes de Covid-19. Ou seja, se houvesse investimento naquilo que é básico e que é direito da população, o sistema público de saúde teria melhor capacidade para lidar com a pandemia. Mais leitos estariam disponíveis. A vulnerabilidade dessas famílias também as coloca na rota da covid-19. Com saúde mais debilitada e imunidade em baixa, pessoas de classe socioeconômica mais baixa tendem a desenvolver a forma mais grave da doença. É o que aponta um outro estudo, este da Universidade Federal de Pelotas. E não há nada de extraordinário nessa conclusão. É óbvio. A sociedade é um organismo vivo.. jSe há colapso em uma parte desse corpo, será questão de tempo até que outras partes paralisem. Logo, é obvio também – ou deveria ser – que se não há saneamento, não há saúde.

E como está o saneamento na Paraíba? De acordo com o IBGE, pesquisa de 2018 divulgada já no fim de 2019, mais da metade da população do estado (50, 8%) ou não tem acesso a esgoto, 16,8% não tem coleta direta ou indireta de lixo, 24% não tem água tratada e encanada.
Esse retrato triste é fruto de uma grande violência por parte do sistema que é sistematicamente corrompido. É consequência também dos investimentos equivocados e ineficientes vez que nossos custos não são nada modestos. Não é que falte dinheiro, é que ele é mal gerido, mal empregado. Estamos na república do desperdício. Cargos que deveriam ser ocupados por técnicos, com expertise em suas áreas, são, na maioria, loteados por indicados políticos. Isso desemboca em problemas de toda natureza, inclusive os de saúde.

Você pode estar questionando essa relação. Explico porque faço essa correlação. É que a coisa pública também adoeceu, também foi contaminada, mas por interesses que flutuam quase sempre em torno das reeleições e não na resolução de conflitos, na solução dos problemas coletivos e em políticas de bem-estar para a população. Já era trágico sem Covid-19, com ela então é muito pior. O Brasil chegou a registrar 1 morte por minuto. A Paraíba, 1 morte a cada hora só por covid. No país inteiro, já são Hoje, tem mais de 159,5 mortos.

Embora a taxa de transmissão da doença tenha caído e esteja abaixo de 1 pela quinta semana consecutiva, os números variam de cidade pra cidade, de estado pra estado, e isso tem a ver com a qualidade de vida, com o índice de desenvolvimento humano, com os investimentos em saneamento básico. Por isso há lugares com realidades bem mais difíceis que outros.

Na Paraíba, apesar da tendência de arrefecimento do número de casos da Covid-19, autoridades sanitárias e de saúde chamam atenção para a probabilidade de um novo pico da doença por causa das medidas de flexibilização e, principalmente, do relaxamento e negligência das pessoas quanto aos cuidados básicos de prevenção.  Há quem defenda a retomada de todas as atividades às cegas. É irracional. E irresponsável. Basta lembrar que Europa e Estados Unidos liberaram comércio, parques, escolas e agora enfrentam nova onda da pandemia. No Brasil, Manaus voltou a fechar tudo por casa da alta nos casos de Covid-19. Resultado de uma política de retomada desastrada.

Está claro que o equilíbrio entre medidas restritivas e de flexibilização é fundamental, do contrário as pequenas conquistas na contenção do avanço das crises sanitária e econômica vão rolar ladeira abaixo e potencializar ainda mais a crise social acentuada nesta pandemia. E nesse  processo, autoridades precisam olhar para as comunidades, para as favelas, para a periferia. Não dá pra negar a situação dos mais vulneráveis (que em sua maioria são negros) como se eles não importassem. As vidas dos pobres importam como toda vida humana importa. Ignorar isso é aceitar como natural e legal uma política elitista, racista e de segregação. Inaceitável.